Por Luis Solimeo – Tradução Andrea Patrícia
“Eu amo a vulgaridade. Bom gosto é morte, vulgaridade é vida”.(1) Estas palavras da fashion designer inglesa, Mary Quant, que ganhou crédito por inventar a minissaia e as hot pants* revelam um dos mais importantes, embora raramente salientados, aspectos da “revolução da moda” que começou na década de sessenta: vulgaridade.
Na verdade, a moda tem cada vez mais tendência para a vulgaridade. É uma vulgaridade que espezinha não só o bom gosto e o decoro, mas que reflete uma mentalidade de oposição a toda a ordem e disciplina, e a cada tipo de restrição, seja ela moral, estética ou social, e que em última análise, sugere um padrão de comportamento completamente “liberado”.
1. Conforto e praticidade são critérios supremos?
A justificativa para a introdução de saias cada vez mais curtas era “para ser prática e libertadora, permitindo às mulheres a capacidade de correr para um ônibus.” (2) A noção de que conforto, praticidade e liberdade de movimento devem ser o único critério para o vestir levou a uma avaria no nível geral de sobriedade e elegância, para não falar das normas da modéstia.
Assim, a vestimenta ocasional, sendo mais confortável e prática, cada vez mais se torna a norma, independentemente do sexo das pessoas, da idade e das circunstâncias. Jeans e camiseta (antes uma peça de roupa interior) se tornou parte do vestuário comum.
Embora se possa usar roupas menos formais em momentos de lazer, essas roupas não devem dar a impressão de que se está abandonando a dignidade e a seriedade. Elas não devem dar a idéia de que a pessoa tirou férias dos seus princípios.
No passado, mesmo traje de lazer, embora mais confortável, mantinha a dignidade que nunca se deve abandonar.
É curioso notar que muitas empresas exigem que os empregados usem ternos para transmitir uma imagem de seriedade e responsabilidade. Esta é a prova de que as roupas transmitem uma mensagem. Podem expressar seriedade e responsabilidade, ou por outro lado, imaturidade e negligência.
2. Roupa Unissex
A premissa de que conforto e praticidade devem presidir a escolha da roupa teve ainda outra conseqüência: a roupa já não reflete uma identidade. Em outras palavras, elas já não indicam a posição social de uma pessoa, profissão ou mesmo características mais fundamentais, tais como sexo e idade.
Assim, roupas unissex tornaram-se generalizadas: jeans e calções passaram a ser usados por pessoas de ambos os sexos e todas as gerações. Homens e mulheres jovens, a juventude e os idosos, solteiros e casados, professores e estudantes, crianças e adultos, todos se misturam e usam as mesmas roupas que já não expressam aquilo que eles são, pensam ou desejam.
3. O hábito não faz o monge, mas identifica-o
Pode-se objetar que “o hábito não faz o monge.” O fato de uma pessoa se veste com distinção e elegância não significa, por si só, que ela tem bons princípios e bom comportamento. Da mesma forma, o fato de que uma pessoa sempre usar traje casual não indica necessariamente que ela tem maus princípios ou um comportamento condenável. À primeira vista, o argumento parece lógico e até óbvio. No entanto, analisado em profundidade, ele não se sustenta.
É verdade, o hábito não faz o monge. No entanto, é um forte elemento que identifica-o. Além disso, ele influencia não só a forma como as pessoas olham para o monge, mas a maneira como ele olha para si mesmo. Ninguém negará que a perda de identidade por muitas freiras e monges, que teve lugar ao longo dos últimos quarenta anos foi em grande parte devido à queda dos hábitos tradicionais, que expressa adequadamente o espírito de pobreza, castidade e obediência, bem como um estilo de vida ascética apropriada para pessoas consagradas.(3)
O belo, modesto e simples vestuário da belle epoque.
4. A necessidade de coerência entre vestimenta e convicções
Dada a unidade que existe em nossas tendências, princípios, convicções e comportamentos, a forma como nos vestimos, não pode deixar de influenciar a nossa mentalidade.
Vestir um determinado tipo de roupa, constitui uma forma de comportamento, e quando a roupa já não reflete adequadamente nossas tendências, princípios e convicções, a mentalidade da pessoa começa a sofrer uma mudança imperceptível para permanecer “em sintonia” com a forma como se apresenta a si mesma. Isso ocorre porque a razão humana, pela força da lógica inerente a ela, visa estabelecer naturalmente uma coerência entre pensamento e comportamento.
Esta regra é magnificamente resumida na famosa frase do escritor francês Paul Bourget: “É preciso viver como se pensa, sob pena de, mais cedo ou mais tarde acabar pensando como se viveu.”
O processo de transformação ou erosão de princípios pode ser retardado ou impedido pelo fervor religioso de uma pessoa, tendências ou idéias profundamente enraizadas, e outros fatores. No entanto, se a incoerência entre o comportamento – refletida na maneira de vestir – e seus princípios e convicções não é eliminada, o processo de erosão, não importa o quão lento, torna-se inexorável.
5. Fé viva, roupas inadequadas
Esta erosão é sutil, muitas vezes se manifesta por uma perda de sensibilidade sobre os pontos fundamentais da nossa mentalidade. Um exemplo seria a relação que se deve ter com o sagrado.
De alguma forma, as concessões ao princípio de que o conforto deve ser a única regra de vestir acabaram por dar uma nota ocasional a atividades mais sérias e santas. Como se pode explicar, por exemplo, que as pessoas que têm verdadeira fé na presença real de Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento, e que fazem sacrifícios admiráveis para freqüentar a adoração perpétua, no entanto, não vê contradição em apresentar-se perante o Santíssimo Sacramento, vestindo short como se estivessem em um piquenique?
A mesma pessoa que aparece assim vestida para a adoração perpétua nunca usa essas roupas na presença, digamos, da rainha Elizabeth II. Essa contradição mostra que, embora a pessoa mantenha a sua fé, até certo ponto, a noção de majestade do Sacramento do Altar – Presença Real – desapareceu de sua alma.
6. Igualitarismo …
Há uma tendência geral em nosso tempo para estabelecer um igualitarismo mais radical em todos os níveis da cultura e das relações sociais entre os sexos, e até mesmo, na tendência de igualitarismo, entre homens e animais.(4)
Nas vestimentas esse igualitarismo se manifesta pela proletarização crescente, a criação da moda unissex e à supressão das diferenças entre as gerações. O mesmo traje pode ser usada por qualquer pessoa, não importa sua posição, idade ou circunstância (por exemplo, em uma viagem, uma cerimônia religiosa ou civil).
O caos reina nos domínios da moda hoje. É muitas vezes difícil de distinguir, por suas roupas, os homens das mulheres, os pais das crianças, uma cerimônia religiosa de um piquenique. Cortes de cabelo e penteados seguem a mesma tendência para confundir a idade e o sexo e para quebrar os padrões de elegância e bom gosto.
7. … Que Conduz à Infantilização
Um dos aspectos que mais se destacam nos modernos ditames da moda é o desejo de criar uma ilusão da eterna juventude, até a adolescência perpétua, sem responsabilidade, um fenômeno que tem sido chamado de “Síndrome de Peter Pan”. (5)
A moda moderna mostra uma tendência de infantilizar as pessoas. Uma crítica de moda brasileira, assim se expressou: “Durante muito tempo temos visto tanto nas passarelas internacionais quanto nas nacionais, moda que deveria ser exibida na “Exposição da Criança”, tal é o nível de infantilização que sugerem. Estilistas com mais de 25 anos estava projetando (e vestindo) roupas que poderiam ser usadas por crianças em uma creche”. (6)
8. A modéstia é essencial à castidade
Além da tendência extravagante, igualitária e infantilizante da moda moderna, é preciso considerar o ataque à virtude e à completa falta de modéstia.
O corpo humano tem sua beleza e essa beleza nos atrai. Devido à desordem que o pecado original deixou no homem, a desordem da concupiscência, o prazer em contemplar a beleza do corpo, e particularmente do corpo feminino pode levar à tentação e ao pecado.
Isso não quer dizer que algumas partes do corpo são boas e podem ser mostradas e outras são más e devem ser cobertas. Tal afirmação é absurda e nunca foi parte da doutrina da Igreja. Todas as partes do corpo são boas, pois o corpo é bom como um todo, tendo sido criado por Deus. No entanto, nem todas as partes do corpo são iguais, e algumas excitam o apetite sexual mais do que outras. Assim, expor as partes através da semi-nudez ou de indecentes vestidos decotados ou vestindo roupas tão apertadas que acentuar a anatomia, representa um grave risco de causar excitação, especialmente nos homens em relação às mulheres.
Portanto, a roupa deve cobrir o que deve ser coberto e fazer sobressair o que pode ser enfatizado. Cobrir um rosto de mulher, como os muçulmanos fazem, mostra bem a falta de equilíbrio de uma religião que não entende a verdadeira dignidade humana. O rosto, a parte mais nobre do corpo porque reflete mais perfeitamente a alma espiritual, é precisamente a parte que mais se destaca nos hábitos tradicionais de freiras.
Assim como a roupa masculina deve enfatizar o aspecto viril próprio do homem, a moda feminina deve manifestar a graça e delicadeza. E neste sentido, ter um cabelo mais longo é um adorno natural para emoldurar um rosto de mulher.
9. Imoralidade na moda e destruição da família
O traje que não mostra o amor-próprio de uma pessoa como um ser inteligente e livre (e, através do batismo, como um filho ou filha de Deus e templo do Espírito Santo), contribui em grande medida para a destruição atual da família. Ele faz isso por favorecer as tentações contra a pureza. Ele também faz isso por sua vulgaridade e infantilidade que corrói a noção da seriedade da vida e da necessidade de ascese (autodisciplina), os quais são elementos fundamentais que manter a coesão e estabilidade familiar.
A luta pela restauração da família, opondo-se ao aborto, a contracepção, a homossexualidade será muito mais eficaz se for feita em conjunto com os esforços para restabelecer a sobriedade, modéstia e elegância no vestir.
10. Vestuário e o Amor de Deus
O papel do vestuário não é só o de proteger o corpo contra os elementos, mas também o de servir como adorno e simbolizam as funções, características e mentalidade da pessoa. O traje deve ser não só digno e decente, mas também tão bonito e elegante quanto possível (que exige mais bom gosto do que dinheiro).
Se o “caminho da beleza” nos leva a Deus vendo-O como a causa exemplar da Criação, o “caminho da feiúra” desvia-nos do Criador e nos coloca no terreno escorregadio do pecado. É por isso que a feiúra é o símbolo do pecado e é tão bem expressa pela expressão “feio como o pecado.”